sábado, 27 de outubro de 2012

Concerto de encerramento do VII Ciclo Síntese


Síntese – grupo de música contemporânea
Teatro Municipal da Guarda – Pequeno Auditório
19 Outubro 2012 - 21h30
Obras de João Pedro Delgado
Sala a ¼


A encerrar o VII ciclo de música contemporânea da Guarda, o grupo Síntese dedicou um concerto à música do violetista João Pedro Delgado, que até ao ano lectivo anterior leccionou neste conservatório. O programa incluiu obras escritas para diversas combinações de entre os seguintes instrumentos: piano, voz, saxofone, violino, viola e violoncelo.

A abrir o evento, Duas peças negligentes apresentaram a viola e o violoncelo em diálogo, de que se destacou a boa afinação das linhas mais agudas e cuja expressividade transpareceu na géstica do próprio músico.
Seguiu-se Combray, peça para instrumento solo em que a prestação do violinista Gustavo Delgado bem justificou o tempo que demorou a concentrar-se, quer pelo rigor da afinação, quer pela convicção com que se entregou à interpretação. Começando numa atmosfera que remete para a música tradicional, a peça caracteriza-se por um conjunto de variações bastante semelhantes entre si. Apesar de repetitiva, Combray é também muito expressiva. Saliente-se a utilização do pizzicato de mão esquerda, que demonstra a profunda familiaridade do compositor com os instrumentos de corda.
Entrando dois novos timbres em cena, Forma sonata faz contracenar instrumentos com papéis independentes entre si, cujas linhas entram em diálogo. Tirando partido do imaginário colectivo na associação do saxofone ao piano, Forma Sonata é plena de expressão e de emoção, caracterizando-se por interessantes harmonias, condimentadas com excelentes variações do tema.
Evocando novamente o universo de Marcel Proust, a contrastante À l’ombre des jeunes filles en fleurs traz-nos o violoncelo, não exemplarmente afinado, dum músico cujas respirações são indisfarçáveis.
Guarda faz subir ao palco a voz de Helena Neves, mote comum às restantes peças em programa. Nesta primeira obra com voz, Helena Neves apresentou-se com o saxofonista Carlos Canhoto. Na canção que se segue, a voz é acompanhada pelo piano; a complexidade do texto de Açucena é compensada pela simplicidade do ritmo e por um discurso musical que reflecte alguma leveza.
As peças que sucederam Não fora haver traição foram apresentadas sem interrupções entre si.

Tendo ocorrido no dia do súbito desaparecimento de um grande vulto da cultura portuguesa oriundo do distrito da Guarda, o concerto foi dedicado ao escritor e jornalista Manuel António Pina (Sabugal: 1943 – Porto: 2012). 

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