Síntese – grupo de música contemporânea
Teatro Municipal da Guarda – Pequeno Auditório
19 Outubro 2012 - 21h30
Obras de João Pedro Delgado
Sala a ¼
A encerrar o VII ciclo de música contemporânea da
Guarda, o grupo Síntese dedicou um concerto à música do violetista João Pedro
Delgado, que até ao ano lectivo anterior leccionou neste conservatório. O
programa incluiu obras escritas para diversas combinações de entre os seguintes
instrumentos: piano, voz, saxofone, violino, viola e violoncelo.
A abrir o evento, Duas peças negligentes apresentaram a viola e o violoncelo em
diálogo, de que se destacou a boa afinação das linhas mais agudas e cuja
expressividade transpareceu na géstica do próprio músico.
Seguiu-se Combray,
peça para instrumento solo em que a prestação do violinista Gustavo Delgado bem
justificou o tempo que demorou a concentrar-se, quer pelo rigor da afinação,
quer pela convicção com que se entregou à interpretação. Começando numa
atmosfera que remete para a música tradicional, a peça caracteriza-se por um
conjunto de variações bastante semelhantes entre si. Apesar de repetitiva, Combray é também muito expressiva.
Saliente-se a utilização do pizzicato
de mão esquerda, que demonstra a profunda familiaridade do compositor com os
instrumentos de corda.
Entrando dois novos timbres em cena, Forma sonata faz contracenar
instrumentos com papéis independentes entre si, cujas linhas entram em diálogo. Tirando
partido do imaginário colectivo na associação do saxofone ao piano, Forma Sonata é plena de expressão e de
emoção, caracterizando-se por interessantes harmonias, condimentadas com
excelentes variações do tema.
Evocando novamente o universo de Marcel Proust, a contrastante À l’ombre des jeunes filles en fleurs traz-nos o violoncelo, não
exemplarmente afinado, dum músico cujas respirações são indisfarçáveis.
Guarda
faz subir ao palco a voz de Helena Neves, mote comum às restantes peças em programa. Nesta
primeira obra com voz, Helena Neves apresentou-se com o saxofonista Carlos
Canhoto. Na canção que se segue, a voz é acompanhada pelo piano; a complexidade
do texto de Açucena é compensada pela
simplicidade do ritmo e por um discurso musical que reflecte alguma leveza.
Tendo ocorrido no dia do súbito desaparecimento de
um grande vulto da cultura portuguesa oriundo do distrito da Guarda, o concerto
foi dedicado ao escritor e jornalista Manuel António Pina (Sabugal: 1943 –
Porto: 2012).
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