domingo, 21 de outubro de 2012

os mestres

Quando ontem vi um grupo de alunos à volta de uma grande mesa rectangular a ouvir um compositor cheio de experiência e disponibilidade para partilhar o conhecimento, foi impossível não recordar os seminários do Professor Emmanuel Nunes na Fundação Calouste Gulbenkian. 
Revivi a estranheza que é estar perante alguém que sabe tão mais do que nós - ultrapassado o período em que ainda não vislumbramos a imensa dimensão desse ser, apercebemo-nos então da nossa pequenez e do longo caminho que temos que desbravar para apenas tentarmos aproximar-nos de uma ínfima parte desse vasto conhecimento.
Percebi que a maioria (senão a totalidade) dos jovens presentes naquela primeira sessão do seminário de composição orientado pelo Professor António Chagas Rosa não possuiria ainda conhecimentos suficientes para ter uma noção aproximada do valor da pessoa que se apresentava diante deles. Apesar disso, tive a clara sensação de que muitos se deleitaram com algumas capacidades técnicas daquele extraordinário músico que, num ápice, encontrava um exemplo musical para cada um dos aspectos que pretendia abordar, a propósito dos trabalhos dos alunos, servindo-se de música, sentado ao piano, para falar da própria música. 
Sei que os meus alunos não terão sido indiferentes à simplicidade com que o Professor António Chagas Rosa se debruçou sobre cada uma das suas questões, ou meias afirmações que mais não pretendiam do que interrogar. Sei que, mesmo que eles ainda não o saibam, esta experiência os marcará para o futuro de forma francamente positiva.
Se se proporcionar uma convivência prolongada, estou certa de que, à medida que estes jovens forem crescendo, lhes será mais fácil aperceber-se da vastidão dos conhecimentos do Professor António Chagas Rosa, não só a nível musical (como intérprete, como compositor, como ouvinte e amante de música), mas também de história, das artes em geral, das suas imensas qualidades humanas, da inteligência que convoca em todas as suas sugestões, da generosidade que emprega na partilha do seu vasto conhecimento a um nível tão distante do seu discurso quotidiano, que é o dos alunos do ensino secundário.
Tive a confirmação de que a minha intuição me conduzia no bom caminho quando escolhi o Professor António Chagas Rosa para orientar este primeiro seminário de composição, de que espero ambiciosos frutos.
Ao falar de Emmanuel Nunes não quero comparar o incomparável, mas senti o conforto de confirmar que, na minha pequena existência, fui tendo a imensa sorte de conhecer diversos e extraordinários seres que, para além de um vasto conhecimento que generosamente vão partilhando- e de que eu vou usufruindo do topo das minhas naturais limitações- são em si mesmos um ensinamento, pelas suas infinitas qualidades humanas e um humor muito peculiar.

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