sábado, 27 de outubro de 2012

Música de João Pedro Delgado


Canções e Instrumentos Solistas



No dia 19 de Outubro de 2012, no Teatro Municipal da Guarda, teve lugar o espectáculo Música de João Pedro Delgado no âmbito do Festival de Música Contemporânea Síntese. No concerto participaram por Gustavo Delgado (violino), João Pedro Delgado (viola d´arco), Rogério Peixinho (violoncelo), Carlos Canhoto (saxofones), Helena Neves (mezzo-soprano) e Nuno Santos Dias (piano). Coincidindo com o dia da morte do poeta e jornalista da Guarda Manuel António Pina, o concerto foi-lhe dedicado.
Programa:
·         “Duas Peças Negligentes” para viola e violoncelo
·         “Combray” para violino solo
·         “Forma Sonata” para saxofone e piano
·         “À l´ombre des jeunes filles en fleurs” para violoncelo solo
·         “Guarda”, para saxofone e voz
·         Canções Mediterrânicas:
- “A açucena”, para voz e piano
- “Não fora haver tradição” para voz e piano
- “A formosura da invocação” para voz e piano
- “Longo será o teu sono” para voz, saxofone e piano
- “Fragmentos de Safo” para voz, saxofone e piano

                João Pedro Delgado iniciou os seus estudos musicais no Conservatório Regional de Viseu. Foi membro da Orquestra Sinfónica Juvenil entre 1997 e 2002, na qual foi chefe de naipe das violas. Foi director artístico da associação Belgais e do seu Coro. Foi colaborador musical e o mais jovem autor de programas de sempre na Antena2. Colaborou, também, com orquestras como Orquestra Gulbenkian, Orquestra do Norte ou Orquestra Metropolitana de Lisboa, entre outras. Com o Quarteto de Cordas São Roque apresentou-se já nas principais salas de espectáculo portuguesas, bem como no México, China, Irlanda, Andorra, Inglaterra, Espanha ou Luxemburgo. Participou em inúmeros festivais internacionais e vários concertos seus foram transmitidos em rádios e televisões do país e estrangeiro. É membro do Síntese – Grupo de Música Contemporânea. Lecciona no Conservatório de Música da Covilhã.
                Sobre este concerto o compositor adianta uma pequena introdução, que citamos:

Durante a segunda metade do Século XX perdeu-se a ligação essencial entre a criação e interpretação musical. Na busca de uma perfeição instrumental quase absurda, os intérpretes abandonaram todas as preocupações criativas para se dedicarem exclusivamente ao desenvolvimento da técnica pura. Simultaneamente, os compositores fomentavam a necessidade de levar a complexidade da sua escrita a patamares ininteligíveis. O compositor, encerrado noutra sala, assumiu a missão de inventar a roda a cada nova obra, subordinando o conteúdo emocional e auditivo da música à estrutura, à forma, ao algoritmo matemático, à gramática e a outros vectores, certamente interessantíssimos para quem analisa a obra, mas pouco excitantes para quem ouve…
Como disse Gasset, a arte desumanizou-se e, digo eu, humildemente, ao desumanizar-se talvez tenha deixado de ser arte…
O que procurei, ao construir as obras a apresentar neste concerto, - muito modestamente, é certo -, foi um regresso à música enquanto diálogo, à arte enquanto sublimação da humanidade, ao momento artístico enquanto consequência natural da acção do Homem – já a compor, já a tocar, como também a ouvir. Tentei assim recolocar a estrutura enquanto instrumento ao serviço do conteúdo, a gramática subordinada à acção e à emoção, a forma enquanto ergonomia musical ao serviço da “justa medida”.
                Interpretação, composição, audição, emoção: quatro conceitos que é necessário unir. Neste ponto, como disse José Gomes Ferreira, “é urgente voltar ao romantismo”.
João Pedro Delgado

Reforçando o que foi dito pelo compositor, o diálogo entre os instrumentos está invariavelmente presente em praticamente todas as peças. Este diálogo – muitas vezes em forma de pergunta/resposta - é realizado através de repetições/trocas de contextos melódicos entre os diversos instrumentos, havendo pois uma fusão entre os instrumentos. Verificou-se a exploração dos timbres e técnicas de cada instrumento com mudanças bruscas de sonoridades (por exemplo, na peça para violino solo “Combray”), de andamento e de dinâmica. Houve também um aproveitamento das possibilidades dos instrumentos de cordas e do canto com a utilização do arco e pizzicato ao mesmo tempo ou a leitura da frase pela mezzo-soprano “Às 8 horas da manhã do ano de 1932, o termómetro da minha casa marca 1 grau abaixo de zero” na peça “Guarda”, por exemplo. Por vezes, ocorrem repetições da mesma frase melódica que se encontra desenvolvida, tanto nos solos como nos conjuntos. Isto é, nota-se que a ideia é a mesma, porém há certas particularidades diferentes (notas, ritmo, etc).

Consideramos que a música contemporânea - aquela que é composta na actualidade, não capta muito a atenção da população em geral, sendo antes melhor recebida por pessoas detentoras de alguma formação musical. Isto talvez porque a técnica se tenha sobreposto à musicalidade e à verdadeira função da música que, julgamos, deve ser a expressão universal de sentimentos.
Relativamente ao concerto propriamente dito, a utilização do diálogo instrumental relembra-nos conversas entre pessoas, as dissonâncias transportam-nos muitas vezes para um hemisfério misterioso. Foram criados ambientes diferentes dentro da música o que, de certa forma, tocou cada uma de nós. Sim, porque música que é música vai sempre muito para além da “mera” sonoridade ou do virtuosismo do seu executante: a música tem que ser emoção que se vive e experimenta. A música, porque universal, tem que unir para além das notas de que é composta, na mensagem que encerra e partilha.   

Os músicos utilizam de todas as liberdades que podem.
Beethoven
Lara Fernandes, Filipa Monteiro e Noémia Souto

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